REFLEXÃO PARA O DOMINGO DA PAIXÃO DO SENHOR
MISSA DE RAMOS DE 2019
Por Dom Antonio Tourinho Neto – Bispo de Cruz das Almas.
Prezados irmãos,
Hoje, com a procissão e a celebração eucarística da Paixão do Senhor e Domingo de Ramos, dá-se início o que a Igreja denomina de “Semana Santa”. O que vivemos nesta Semana tão especial para nós cristãos católicos? Em primeiro lugar, vivenciamos os últimos dias de Jesus aqui na terra e a semana em que fazemos memória do grande drama do duelo final entre Jesus, que nos concede o dom da vida eterna e o demônio que, outrora, nos conduziu à morte. É neste sentido que a Igreja celebra o Tríduo Pascal. O que chamamos de páscoa – passagem, na verdade, é a luta definitiva entre Deus e seu arqui-inimigo. No fim desta luta há um “troféu” para o vencedor: A humanidade. Por isso que os dois se digladiam, pela posse definitiva dos seres humanos e de todo Universo. O primeiro combatente, Jesus, o Filho do Deus Vivo, luta para tomar de volta aquilo que, por direito, pertence ao seu Pai, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. O segundo combatente é o demônio, Satanás, o príncipe deste mundo. Aquele que rebelou-se contra Deus e, em forma de serpente, um dia no paraíso ou Jardim do Éden, sequestrou os primeiros pais da humanidade e, com eles, toda sua descendência (Gen. 3, 1-24).
A Liturgia da Palavra de hoje afirma que, no final desta grande e terrível batalha, o Senhor Jesus foi o vencedor e, como vencedor, arrancou-nos das mãos daquele que havia nos sequestrado, devolvendo-nos aos braços do Pai de onde nunca devíamos ter saído.
Mas, o que fez Jesus vencer a fúria ardilosa do demônio? São Paulo ao escrever para a comunidade de Felipo (2ª leitura), apresenta duas armas poderosas usadas pelo Senhor, para derrotar o príncipe deste mundo: “aniquilamento” e “humilhação” de Si mesmo. Foi desta forma que Deus feito homem provou seu amor por nós e nos conquistou de volta. São João evangelista, ao narrar o amor de Jesus Cristo pela humanidade, afirma: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Quer dizer, amou através da mais nobre forma de expressão do sentimento de amor que alguém pode manifestar pelo próximo: “aniquilando-Se” e “humilhando-Se”. A aniquilação e a humilhação do Filho de Deus contrapõem a soberba e o orgulho de Satanás. Foi isto que o enfraqueceu no combate.
Este amor se tornou superior a tudo, quando Aquele que amou até o extremo não foi reconhecido pelos próprios destinatários da sua paixão. “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,11): Vendido pelo preço de um escravo (trinta moedas de prata) e traído com um beijo não por um estranho, mas por um dos seus discípulos; negado três vezes antes do galo cantar por aquele que Ele mesmo fez uma profecia a seu respeito: “Tu és Pedro e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18); zombado, escarnecido e ultrajado por sua gente que preferiu, em seu lugar, a liberdade do prisioneiro homicida Barrabás. No ápice da sua aparente derrota, a hora da cruz, clamou pelo Pai e este silenciou profundamente. Naquele momento Jesus crucificado tornou-se refugo do céu e refugo da terra. Deu-se, então, o instante do cumprimento da sua promessa: “Quando eu for elevado, atrairei todos para mim” (Jo 12, 32).
É semana Santa e nós, os discípulos dos tempos atuais, somos convocados a fitarmos o crucificado e abandonado. Porém, não de longe, sentados no banco da Igreja confortavelmente, olhando-O como se estivéssemos diante de um fato que ficou num passado muito distante. Somos convidados a aproximarmos bem perto do Crucificado, bem junto Dele, para pedirmos à Ele que chegue um pouquinho pra lá na cruz e nos conceda um espaço também. Sem dúvida, esta será a melhor forma de contemplarmos e experimentarmos sua dor e seu amor pela humanidade. Só assim aprenderemos com Ele o dom da humildade e o exercício do aniquilamento, para sermos uma Igreja serva de todos, principalmente daqueles que, no momento presente, mais se assemelham a Ele desfigurado na cruz.