DIA DOS FIÉIS DEFUNTOS OU DIA DE FINADOS
Muitos cristãos, infelizmente, não sabem explicar o porquê da Liturgia da Igreja reservar, em especial, um dia do ano para se comemorar todos os fiéis defuntos. Em 02 de novembro nós, os fiéis da Igreja peregrina, assinalados pela fé batismal, somos convidados a refletirmos sobre três aspectos cristãos diante do desafiante mistério da morte:
Primeiro aspecto: Somos portadores da “Esperança”. A Esperança é uma das três virtudes cristãs conhecidas como “virtudes teologais”. A morte nos causa tristeza e dor pela separação de um ente querido, porém agimos diferentemente daquelas pessoas que não possuem o dom da fé. A tristeza que a morte causa ao cristão é suportável, pois o mesmo é portador da esperança na promessa que Jesus faz: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. (João 11:25-26). Quando depositamos flores nos túmulos onde nossos entes queridos estão sepultados não queremos ofertá-las aos mortos, o significado é outro, as flores simbolizam a nossa esperança na feliz ressurreição prometida e garantida pelo Senhor Jesus, que é o Senhor dos vivos e dos mortos (Rm 14,9). As velas acesas nos túmulos lembram a primeira morte sofrida pelos cristãos no dia do seu batismo, isto é, quando fomos mortos, sepultados na água e ressuscitados com Cristo para uma vida nova, então a Luz do Senhor se ascendeu em nós mediante a fé recebida pelo primeiro Sacramento.
Segundo aspecto: A morte nos recorda o nosso futuro. Mais cedo ou mais tarde todos, indistintamente, passarão pela experiência da morte. Rico ou pobre, negro ou branco, homem ou mulher, famoso ou anônimo, crente ou incrédulo, ninguém poderá barganhar com a morte para livrar-se de descer à sepultura. É um caminho inevitável. Por isso, o cristão é convocado a preparar-se durante toda a vida para esta hora. De que maneira? Jesus desenvolveu um conjunto de ensinamentos que se encontram nos evangelhos, tais como: a necessidade de agir com reta intenção nesta vida; perdoar e amar a todas as pessoas, sem exceção, particularmente os pobres; buscar viver na verdade evitando todo tipo de mentira; “aspirar as coisas celeste que não passam” (Cl 3,2). É bom sempre recordar que tudo neste mundo é ilusão. “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, tudo é vaidade”. (Eclesiastes 1,2).
Terceiro aspecto: A profissão na feliz ressurreição. A primeira oração da missa de finados nos convida a rezar dizendo: “Ó Deus, aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas”. Ora, somos cristãos porque cremos na feliz ressureição. A ressurreição dos mortos é a “carteira de identidade” do cristão. O apóstolo Paulo afirma que “se os mortos não ressuscitam, nem o próprio Cristo foi ressuscitado! E, se Cristo não ressuscitou, a vossa fé para nada serve” (1 Cor 15, 16). O Apóstolo dos gentios ainda afirma que “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais.” (1 Cor 6,14). Na recitação do Credo dos Apóstolos os cristãos solenemente afirmam: “Creio na ressurreição da carne” e no credo Niceno-Constantinopolitano se diz, “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
No Evangelho de hoje, extraído de Lucas 12, 35 – 40, Jesus nos chama atenção em relação a responsabilidade para com o dom da nossa vida, que é o dom mais precioso que nós temos. “Rins cingidos” e “lâmpadas acesas” são sinais de compromisso com a missão a nós confiada e o estado de alerta que precisamos nos encontrar sempre. Quando o Senhor mandar nos buscar pedirá contas do sentido da nossa vida aqui neste mundo. Ficar preparados é necessário sempre, pois ninguém sabe quando será o dia e a hora. Quem quiser ser servido pelo Senhor no festim da Eternidade, que busque já agora a fidelidade ao Reino de Deus, pois depois não haverá mais tempo.
+ Antonio Tourinho Neto
Bispo de Cruz das Almas – BA.